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Não sei se alguém viu o que vi. Talvez tenha sido apenas um erro de percepção, uma sombra mal interpretada, um cruzamento de cabos na minha cabeça. Mas desde que aconteceu, não consegui dormir sem sentir que algo me observa do canto mais escuro do meu quarto. Tudo começou com uma visita que eu não deveria ter feito. Eles me disseram para não ser, que essas coisas não tocam, que existem portas que não devem ser abertas. Mas eu fui. E agora, toda vez que fecho os olhos, eu a vejo. Não é ela, mas na mão dela. A mão não é humana. Não completamente. Possui dedos ósseos longos, com unhas que parecem lascas de obsidiana. Ele se move como se eu soubesse que estou olhando para ela, como se tivesse desfrutando do medo que me causasse. E a pior parte é que não está nos meus sonhos. Está aqui. Não foi uma sessão típica. Não havia velas ou cartões em chamas na mesa. Ela apenas olhou para mim, como se eu já soubesse por que estava lá. Ele me pediu para estender a mão. Eu fiz isso. E então, sem me tocar, ele se aproximou dele. Estava lá quando eu notei. Sua mão não era como a de uma velha. Eu não tinha rugas, manchas, tremores. Era suave, pálido, como feito de cera. Mas o que me paralisou foi a maneira como os dedos se moviam. Não é como os de uma pessoa, mas como os de algo que imita uma pessoa. Algo que aprendeu a se mover entre nós, mas não pertence aqui. Ele me disse que tinha algo para me mostrar. Nem todos os destinos são escritos, mas alguns são selados. Ele me pediu para fechar os olhos. Eu fiz isso. E no escuro, vi coisas que não deveriam existir. Eu vi uma porta que não se abre com chaves, mas com medo. VI enfrenta sem olhos, mãos sem dedos, vozes que não usam palavras. Quando abri meus olhos, ela se foi. Somente a mão dele ainda estava lá, na mesa, imóvel. Não sei como deixei esse lugar. Não me lembro de caminhar. Só sei que desde então, toda vez que fico sozinho, a mão aparece. Às vezes no espelho. Às vezes na tela reflexa. Às vezes logo atrás de mim. Eu tentei ignorá -lo. Eu pensei que estava estresse, que minha mente estava jogando um passe ruim. Mas então os sons começaram. Eles não eram passos ou vozes. Era como se algo rastejasse dentro das paredes. Como se unhas longas rasgaram o gesso do outro lado. Sempre à noite. Sempre quando eu estava sozinho. Uma vez, reuni a coragem de conversar com alguém. Eu disse a Luis, que sempre foi cético, que não acredita em nada que não possa medir ou desmontar. Ele me ouviu em silêncio. Então ele me disse que tinha ouvido falar dela. Isso não era um contador de fortuna, mas algo mais velho. Algo que usou a forma de uma mulher para atrair aqueles que procuram respostas. Mas o que ele oferece não são respostas. Eles são portas. Eu perguntei a ele que tipo de portas. Ele me disse que existem lugares que não existem em nenhum mapa, mas que eles estão mais próximos de nós do que nossa própria sombra. Se alguém entrar, nem sempre pode sair. Que a mão é apenas o limiar. Desde então, tentei não pensar nela. Mas a mão aparece nos lugares mais inesperados. Em uma foto que eu não tirei. Em uma videochamada onde ninguém mais a viu. No reflexo de uma colher. Sempre imóvel. Sempre esperando. Ontem à noite, eu a vi se mover. Não era uma reflexão ou uma ilusão de ótica. A mão estava na minha mesa, exatamente onde eu deixara o caderno. Não sei como chegou lá. Eu não a vi entrar. Eu não ouvi nada. Mas quando me virei, estava lá. E ele se mudou. Ele não andou. Ele não rude. Ele dobrou em minha direção, como se quisesse me tocar. Como se eu quisesse ter certeza de que a vi. Eu estava paralisado. Não por medo, mas por uma certeza que me perfurou como uma faca: se eu me tocasse, não seria eu novamente. Não sei quanto tempo aconteceu. Talvez segundos. Talvez horas. Mas quando eu pisquei, não estava mais. O caderno ainda estava lá, aberto em uma página que eu não havia escrito. Nele, com tinta preta, havia uma frase: "Você já cruzou."

20:39

31.08.2025

Não sei o que isso significa. Eu procurei em livros, em fóruns, mesmo em rituais antigos. Ninguém sabe. Ou ninguém significa isso. Mas desde então, as coisas mudaram. Os espelhos não refletem mais o mesmo. As sombras se estendem, mesmo que não haja luz. E às vezes, quando estou em silêncio absoluto, ouço uma respiração que não é minha. Hoje acordei com marcas no pulso. Eles não eram cortes ou contusões. Eles eram traços. Como se algo tivesse me segurado fortemente enquanto eu dormia. Não há mais ninguém em casa. Não há como alguém entrar. Mas as marcas estão lá, simétricas, como se cinco dedos tivessem fechado na minha pele. Tentei gravar enquanto dormia. Coloquei o telefone no modo noturno, apontando para a cama. Hoje de manhã, verifiquei o vídeo. Às 3:17 da manhã, a imagem é distorcida. Não há som. Não há movimento. Apenas uma sombra que se forma na borda da tela. Não tem corpo. Não tem rosto. Apenas uma mão. Suspenso no ar. Ainda. Observando. Eu não sei o que você quer. Não sei se você está esperando por algo de mim ou se você simplesmente gosta do terror que me causa. Mas todo dia está mais próximo. Não aparece mais apenas em reflexos ou gravações. Eu a vi na janela, embora eu more no quarto andar. Eu a vi na água da pia, embora não houvesse nada lá. E ontem à noite, quando fechei os olhos, a senti no meu peito. Ele não me tocou. Ele só apoiou. Como se eu quisesse me lembrar que ele está lá. Isso nunca saiu. Hoje eu tentei queimar o caderno. Eu pensei que se eu destruísse a página, se eu apagar essa frase, tudo terminaria. Eu joguei no fogo, o vi queimar, vi -o se tornar cinzas. Mas hoje à noite, quando voltei para casa, estava novamente na minha mesa. Intacto. Abra na mesma página. A tinta parecia mais legal. Como se ele tivesse acabado de escrever. Tentei quebrá -lo, mergulhar na água, enterrá -lo. Nada funciona. Sempre volte. E toda vez que ele faz, há uma nova frase. O último disse: "Ela não precisa mais da porta." Não sei o que isso significa. Mas desde que parecia, comecei a ver coisas que não estão lá. Pessoas que não se movem. Rostos que não piscam. E a mão ... a mão não se esconde mais. Está comigo. Em cada quarto. Em cada espelho. Em todo silêncio. Hoje acordei com a terra debaixo das unhas. Não me lembro de sair. Não me lembro de tocar em nada. Mas havia terra. Escuro. Molhado como um lugar onde a luz não chega. Eu tentei lavá -lo, mas não sai. Como se não fosse sujeira, mas parte de mim. O caderno agora escreve sozinho. Todas as noites, uma nova frase aparece. Não há tinta. Não há caneta. Apenas palavras formadas como se alguém as pensasse de outro lado. O último disse: "Não é mais você." E eu acho que é verdade. Eu não reconheço minha voz. Eu não reconheço meus pensamentos. Às vezes, quando estou falando, sinto que outra pessoa está movendo minha boca. Que eu sou apenas o eco de algo que atravessou quando fechei os olhos naquele tempo. A mão não se esconde mais. Está comigo. Sempre. Não como presença. Como uma extensão. Como se fosse meu agora. Como se eu fosse dele. Se você está lendo isso, não procure palpite. Não toque no caderno. Não feche os olhos quando ela lhe perguntar. Porque há portas que não abrem. Há portas que abrem você.

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31.08.2025